Terra,
ano 2354.
-Senta
aqui precisamos conversar. Fala ele à esposa, enquanto prepara um baseado para
os dois. Prende, põe na cigarreira elétrica, traga, curte a brisa e passa para
ela dizendo:
-
Você tem que ser menos rígida com ele, o quer por perto mas vai acabar
fazendo com que ele se sinta castrado e não vai demorar nada até que se aliste
em uma missão de exploração a buracos negros.
Ela
responde após dois tragos e nenhuma devolução do cigarro: - Nossa como você é
dramático, depois eu que preciso ser menos pessimista.
-
Querida, são só quatro meses de férias, ele pode ir com a nossa nave, ela não é
nova mas aguenta a viagem. Desde o fim da Guerra não houveram mais acidentes,
não vai acontecer nada demais.
-
Não me preocupo com acidentes, você sabe (fala ela finalmente dividindo a erva
com o esposo), eu é que não vou com a cara daquela menina verde.
-
Amor, não fale assim, se já existisse um tribunal interplanetário você com
certeza seria processada.
Ela
levanta vai até a janela e começa a chorar.
–
Eu sei que é bobagem minha, mas não consigo me acostumar com a ideia do meu
filho copulando com uma marciana, ainda mais bem longe da nossa casa. É
provável que esses seres do espaço nem tenham barreiras contraceptivas
instaladas via Wifi... Aiiii, eu não quero uma “coisinha de Marte” me chamando
de vovó. Por que ele não pode ser como a irmã, que namora alguém da Terra?
Ela e a Júlia fazem um casal tão lindo.
-Querida,
o Júnior sempre gostou mais de sair do lugar comum, lembra quando ele era
criança e foi pego contrabandeando queijo? (Risos). Passa o baseado.
-
E você ainda rir! O filho da vizinha começou com queijo e depois acabou expulso
do Continente por tráfico de carne vermelha, sem falar na quantidade de
artérias entupidas. Pegue, mas deixe o último trago pra mim.
-Você
não vai poder agir assim pra sempre, Meu bem, já tivemos a idade dele, deixe o
garoto viver... Ele faz bem de querer sair daqui afinal, desde que um dos sóis
artificiais parou de funcionar, a crise só piora. Tome esse cigarro, eu
não quero mais fumar, preciso de algo mais forte. Sobraram cogumelos?
-Estão
na gaveta. Tudo bem ele pode ir, mas teremos que realizar vasectomia, não
quero correr riscos.
Nessa
hora Juninho entra em casa, com um cachimbo na boca. Fala o pai:
-
Garotão, eu e sua mãe conversamos e amanhã irei levar a nave pra fazer uns
reparos, assim você poderá viajar logo no seu primeiro dia de férias.
-Não
vai ser preciso pai. Eu terminei o namoro com a Kiki. Vou entrar para uma
religião, que um amigo da escola está fundando.
- Ah, tudo bem... Como assim
religião???