Apesar de Corinthiano roxo, só estive na cidade de São Paulo
duas vezes. Fiquei pouco, dois dias na primeira visita e quatro na seguinte. Em
ambas conheci o máximo que pude, mas obvio que não a cidade toda. O único lugar
que visitei por duas vezes foi o Shopping Metrô Itaquera, que leva o nome da
estação que passa ao lado, mas não pense você que eu sou fã de Shoppings,
acontece que em minha primeira visita meu tio precisou ir ao caixa eletrônico e
usou o desse shopping. Como a fila estava grande eu aproveitei para dar um
“rolezinho” pelos corredores e acabei indo até o metrô, de onde se podia ver ao
longe o estádio do Corinthians ser construído. Como estava chovendo forte, isso
foi o mais perto que pude chegar do templo alvinegro. Apesar de não satisfeito,
estava feliz.
Após dois anos e lá estava eu novamente em Sampa, se da
primeira vez foi por motivo de férias, agora eu era candidato a um cargo
público e aproveitei para chegar alguns dias antes da prova e finalmente
assistir um jogo do Timão em sua casa.
Meu tio, o mesmo, me deixou em frente ao Shopping, também o
mesmo, mais ou menos com três horas de antecedência ao começo da partida, visto
que nem ingresso para o jogo eu havia comprado. Vou confessar uma coisa: apesar
de adorar viajar eu não gosto de me sentir hóspede, é que um hóspede sempre
precisa de um anfitrião e talvez minha alta estima não esteja preparada para
tal. Meu tio sempre me tratou muitíssimo bem, mas na hora em que ele falou que
me encontraria uma hora após o término do jogo e deu partida no carro eu
percebi que acabara de ter a melhor sensação do meu dia, e que já há algum
tempo, aproximadamente dois anos, eu não me sentia tão à vontade quanto naquele
momento.
Caminhei até o
estádio, fotografei bastante durante a caminhada, tomei uma cerveja, comprei o
ingresso, tomei uma segunda e uma terceira cerveja, voltei ao Shopping para
almoçar, tomei uma quarta cerveja ao invés da sobremesa e percebi que não parava
de sorrir por um só segundo; Só não estou certo de que sorria pelo ingresso
comprado, pelas cervejas ou por alguma relação espiritual com aquele shopping.
Eu estava certo somente de que não queria que aquele momento acabasse.
Faltando 40 minutos para o início da partida pus-me a
caminhar em direção ao estádio, acompanhado de mim somente uma quinta cerveja,
que prometi a mim mesmo ser a última do
dia. Fiquei deslumbrado ao entrar no Itaquerão, estádio lindo, torcida
vibrante, clima agradável e eu super empolgado pensei: - O Corinthians pode até
perder que mesmo assim vou continuar feliz.
A todos os “antis”, quero dizer que o Corinthians venceu
aquele jogo, mas enquanto me despedia do estádio me questionei: Aonde mora a
tal da Dona Felicidade? Será em Itaquera e por isso eu me sentia tão bem a cada
visita? Acho que afirmei que sim.
Fotografei mais um pouco o estádio pelo lado de fora, quebrei a promessa e bebi a sexta cerveja até
que por fim comecei a caminhar em direção ao Shopping, já era quase hora de
encontrar meu tio.
Cheguei ao ponto de encontro com 10 minutos de antecedência
e para me distrair fiquei visualizando as fotos que tinha feito naquela tarde,
mas não demorou muito até ficar sem bateria, não era pra menos já que a última
carga havia sido dada no dia anterior e passei as últimas horas usando o
aparelho a todo o momento, tudo bem, meu tio não iria demorar.
Já estava ali há duas horas e nada do meu tio, duas horas
sem celular; tempo suficiente para pensar que duas horas não é muito tempo levando
em conta o trânsito de São Paulo; Tempo para achar que meu tio tinha me
esquecido; tempo suficiente para pensar em mil formas de conseguir chegar na
casa dele, que eu nem sabia o endereço; tempo suficiente para me achar imbecil
por não saber o endereço; tempo bastante para pensar em ligar de um telefone
público para casa e conseguir o endereço com minha avo; tempo para pensar
que um táxi não devia ser assim tão
caro; tempo suficiente para esquecer da empolgação do jogo, tempo suficiente
para perceber que não havia nada de mágico em Itaquera... tempo suficiente para
mais uma vez pensar que era o trânsito...
Mas afinal, onde estava aquela felicidade que nem a derrota
do time do coração era capaz de abalar?
Por que será que no começo daquela tarde eu havia me sentido tão bem e
agora a única coisa que me restava era me perguntar pelo meu tio?
Quem somos? De onde viemos? O que é o universo? Onde está
meu tio?
Posso acreditar que apesar das opções que tinha, como tentar
conseguir o endereço com minha avó, só o que me sobrava era ficar triste,
porque na verdade pra mim, tristeza é somente ausência. De verdades, de certezas, de atenções, de
posses, de condições e outras drogas mais. E o mais legal do enredo é que isso
tem relação direta com tempo e espaço, ou seja: O que te torna infeliz no
começo de uma tarde pode no mesmo dia ser algo irrelevante pra você, tudo
depende das suas opções no momento.
A Alegria por sua vez, é um tiro certeiro. É estar sozinho,
na maior cidade do seu país, você só é familiarizado com único lugar e esse
lugar é justamente onde você gostaria de estar naquele momento.
Se o jogo do Corinthians fosse na minha cidade, ou mesmo se
eu morasse em São Paulo, eu poderia até ir ao jogo com muita felicidade, mas
certamente eu teria muitas outras opções e essa pressão por escolhas
minimizaria minha felicidade, já que a alegria é apenas uma satisfação de
realidade, um simples contentamento.
Temos tantas opções à nossa volta, boas ou ruins, que acabo
por pensar que à felicidade é nômade, encontra-lá é mesmo questão de sorte, a
tristeza não, essa faz questão de tentar te seguir.
Meu tio chegou ao local marcado três horas depois de mim, com um sorriso maroto. Pra minha sorte ele foi sincero e falou que havia esquecido de mim e queria minhas desculpas, pra sorte dele eu não tinha muitas opções.