quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

A tal da Dona Felicidade, Seu Inverso e o Shopping Metrô Itaquera.















      Apesar de Corinthiano roxo, só estive na cidade de São Paulo duas vezes. Fiquei pouco, dois dias na primeira visita e quatro na seguinte. Em ambas conheci o máximo que pude, mas obvio que não a cidade toda. O único lugar que visitei por duas vezes foi o Shopping Metrô Itaquera, que leva o nome da estação que passa ao lado, mas não pense você que eu sou fã de Shoppings, acontece que em minha primeira visita meu tio precisou ir ao caixa eletrônico e usou o desse shopping. Como a fila estava grande eu aproveitei para dar um “rolezinho” pelos corredores e acabei indo até o metrô, de onde se podia ver ao longe o estádio do Corinthians ser construído. Como estava chovendo forte, isso foi o mais perto que pude chegar do templo alvinegro. Apesar de não satisfeito, estava feliz.

     Após dois anos e lá estava eu novamente em Sampa, se da primeira vez foi por motivo de férias, agora eu era candidato a um cargo público e aproveitei para chegar alguns dias antes da prova e finalmente assistir um jogo do Timão em sua casa.

    Meu tio, o mesmo, me deixou em frente ao Shopping, também o mesmo, mais ou menos com três horas de antecedência ao começo da partida, visto que nem ingresso para o jogo eu havia comprado. Vou confessar uma coisa: apesar de adorar viajar eu não gosto de me sentir hóspede, é que um hóspede sempre precisa de um anfitrião e talvez minha alta estima não esteja preparada para tal. Meu tio sempre me tratou muitíssimo bem, mas na hora em que ele falou que me encontraria uma hora após o término do jogo e deu partida no carro eu percebi que acabara de ter a melhor sensação do meu dia, e que já há algum tempo, aproximadamente dois anos, eu não me sentia tão à vontade quanto naquele momento.

     Caminhei até o estádio, fotografei bastante durante a caminhada, tomei uma cerveja, comprei o ingresso, tomei uma segunda e uma terceira cerveja, voltei ao Shopping para almoçar, tomei uma quarta cerveja ao invés da sobremesa e percebi que não parava de sorrir por um só segundo; Só não estou certo de que sorria pelo ingresso comprado, pelas cervejas ou por alguma relação espiritual com aquele shopping. Eu estava certo somente de que não queria que aquele momento acabasse.

     Faltando 40 minutos para o início da partida pus-me a caminhar em direção ao estádio, acompanhado de mim somente uma quinta cerveja, que prometi a mim mesmo ser  a última do dia. Fiquei deslumbrado ao entrar no Itaquerão, estádio lindo, torcida vibrante, clima agradável e eu super empolgado pensei: - O Corinthians pode até perder que mesmo assim vou continuar feliz. 

    A todos os “antis”, quero dizer que o Corinthians venceu aquele jogo, mas enquanto me despedia do estádio me questionei: Aonde mora a tal da Dona Felicidade? Será em Itaquera e por isso eu me sentia tão bem a cada visita? Acho que afirmei que sim.

   Fotografei mais um pouco o estádio pelo lado de fora,  quebrei a promessa e bebi a sexta cerveja até que por fim comecei a caminhar em direção ao Shopping, já era quase hora de encontrar meu tio.

   Cheguei ao ponto de encontro com 10 minutos de antecedência e para me distrair fiquei visualizando as fotos que tinha feito naquela tarde, mas não demorou muito até ficar sem bateria, não era pra menos já que a última carga havia sido dada no dia anterior e passei as últimas horas usando o aparelho a todo o momento, tudo bem, meu tio não iria demorar.

    Já estava ali há duas horas e nada do meu tio, duas horas sem celular; tempo suficiente para pensar que duas horas não é muito tempo levando em conta o trânsito de São Paulo; Tempo para achar que meu tio tinha me esquecido; tempo suficiente para pensar em mil formas de conseguir chegar na casa dele, que eu nem sabia o endereço; tempo suficiente para me achar imbecil por não saber o endereço; tempo bastante para pensar em ligar de um telefone público para casa e conseguir o endereço com minha avo; tempo para pensar que  um táxi não devia ser assim tão caro; tempo suficiente para esquecer da empolgação do jogo, tempo suficiente para perceber que não havia nada de mágico em Itaquera... tempo suficiente para mais uma vez pensar que era o trânsito...

   Mas afinal, onde estava aquela felicidade que nem a derrota do time do coração era capaz de abalar?  Por que será que no começo daquela tarde eu havia me sentido tão bem e agora a única coisa que me restava era me perguntar pelo meu tio?

    Quem somos? De onde viemos? O que é o universo? Onde está meu tio?

   Posso acreditar que apesar das opções que tinha, como tentar conseguir o endereço com minha avó, só o que me sobrava era ficar triste, porque na verdade pra mim, tristeza é somente ausência.  De verdades, de certezas, de atenções, de posses, de condições e outras drogas mais. E o mais legal do enredo é que isso tem relação direta com tempo e espaço, ou seja: O que te torna infeliz no começo de uma tarde pode no mesmo dia ser algo irrelevante pra você, tudo depende das suas opções no momento.

   A Alegria por sua vez, é um tiro certeiro. É estar sozinho, na maior cidade do seu país, você só é familiarizado com único lugar e esse lugar é justamente onde você gostaria de estar naquele momento.

   Se o jogo do Corinthians fosse na minha cidade, ou mesmo se eu morasse em São Paulo, eu poderia até ir ao jogo com muita felicidade, mas certamente eu teria muitas outras opções e essa pressão por escolhas minimizaria minha felicidade, já que a alegria é apenas uma satisfação de realidade, um simples contentamento.

   Temos tantas opções à nossa volta, boas ou ruins, que acabo por pensar que à felicidade é nômade, encontra-lá é mesmo questão de sorte, a tristeza não, essa faz questão de tentar te seguir. 

    Meu tio chegou ao local marcado três horas depois de mim, com um sorriso maroto. Pra minha sorte ele foi sincero e falou que havia esquecido de mim e queria minhas desculpas, pra sorte dele eu não tinha muitas opções.